Paulínia vira laboratório contra o álcool
Pesquisadores da Unifesp testam na cidade da região de Campinas programa para reduzir danos causados pela bebida
Aureliano Biancarelli
Uma "cidade-laboratório" vai testar as recomendações da Organização Mundial da Saúde para reduzir o consumo de álcool e os danos que causa às pessoas e à sociedade. Paulínia -54 mil habitantes, na região metropolitana de Campinas- vem sendo estudada há um mês por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em parceria com a prefeitura local e com financiamento da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado).
Sede de grandes empresas, Paulínia ainda tem uma periferia pobre de serviços públicos, onde as mortes violentas continuam em primeiro lugar. "Estudos mostram que a violência está diretamente ligada ao consumo de álcool", diz Marcos Romano, psiquiatra e pesquisador da Unifesp.
O caso de Paulínia foi apresentado no 1º Congresso Internacional de Prevenção e Políticas Públicas de Álcool e Drogas, promovido na sexta e no sábado pela Unidade de Álcool e Drogas (Uniad) da Unifesp. "O álcool é um problema de saúde pública, que requer a intervenção integrada de diversos setores do poder público", disse Ronaldo Laranjeira, um dos coordenadores do congresso.
Em sua fala, Laranjeira citou pontos recomendados pela OMS e que fazem parte do programa de Paulínia. "Por seu alto custo social, o álcool deve estar sujeito a regulamentação governamental e aqueles que o fabricam e o vendem devem ser responsabilizados pelos danos causados."
O município tem poder para controlar os alvarás dos locais que vendem bebidas, diz Romano. Pode também impedir que o álcool seja vendido em eventos frequentados por menores.
Controlar o acesso às bebidas, reduzir o número de bares e o horário de vendas, aumentar os impostos e treinar os vendedores são algumas das medidas que o programa vai testar em Paulínia. Campanhas na mídia e nas escolas e tratamento aos dependentes também fazem parte.
O projeto Cuida
Em São Paulo, a relação entre o número de bares, o consumo de álcool e a violência já foi demonstrada em pesquisa da Uniad no Jardim Ângela, zona sul. Agora, a mesma unidade vem há um ano trabalhando com 128 crianças e adolescentes desse bairro que convivem com algum dependente químico na família. A maioria (69%) tem o pai alcoólatra. Embora só 11% delas tenham dependência, a grande maioria (80%) tem auto-estima rebaixada.
Um dos objetivos do projeto Cuida "é diminuir a exposição dessas crianças ao risco de violência", diz Neliana Figlie, psicóloga da Unifesp e coordenadora do programa. Por exemplo, 35% delas já presenciaram agressões físicas entre os pais e 45% das mães já apanharam do marido.
As crianças passam parte do dia em oficinas terapêuticas, "tardes de cinema", brinquedoteca e atendimento psicoterapêutico, recebem lanche e vale-transporte.
Vivendo em famílias que ganham no máximo três salários mínimos, essas crianças seriam facilmente atraídas para o tráfico e pela violência se permanecessem na rua, diz Neliana.
O projeto Cuida, em parceria com a prefeitura e a Sociedade Santos Mártires, é apenas um grão na imensidão da periferia.
Fonte:Folha de São Paulo/SP - Unifesp
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