Drogas invadem escolas de Bauru

Rede Bom Dia
Alunos e diretora de escolas estaduais deixam claro que drogas são usadas e vendidas em ambiente escolar.

O que você aprendeu na escola? Nas cadeiras do plantão policial após ser apreendida em flagrante por roubo, Aninha, nome fictício, conta que usou maconha pela primeira vez dentro da escola estadual onde estudava. “Crack e cocaína também usei de monte. O pessoal leva para vender e até usa dentro da sala de aula”.

Aos 14 anos, ela é viciada em crack. Relatou ao BOM DIA, há três semanas, quando foi detida, que roubava e furtava para manter o vício. Deixou a escola há alguns meses. “Não adiantava nada ir. Eu acabava comprando e usando dentro da escola. Mas só deixei porque não tenho mais condições de estudar”, relata.

A história de Marina, cujo nome será preservado a seu pedido, é bem parecida. A grande - e definitiva - diferença é que a jovem, que já tem 18 anos, não chegou a usar crack. “Não usei porque não quis. Oportunidade não faltou”.
Ela parou na cocaína e diz que chegou a cheirar a droga dentro da sala de aula de uma escola estadual.

Tanto o nome da escola de Marina quanto a de Aninha e as demais que ainda serão citadas pela reportagem serão preservados a pedido dos entrevistados, que afirmam temer por represálias e, em alguns casos, pela vida.

“Sempre usei dentro da escola. Colocava no caderno para cheirar”, conta Marina. Ela diz que às sextas-feiras a aula virava uma “grande festa”, em suas palavras. “A gente levava bebidas e muita droga. Cada um levava um pouco para o grupo usar”.
Marina relata ainda que apenas uma vez teve a atenção chamada pela diretora. A polícia foi acionada à escola na ocasião, mas a mãe da jovem, na época com 17 anos, não foi avisada do que se passava em momento algum.

Diferente de Aninha, que hoje está internada em uma casa abrigo cumprindo medidas socioeducativas pelos crimes que cometeu, Marina não chegou a usar o crack e hoje está recuperada. Passou por tratamento na Comunidade Bom Pastor e pretende retomar a vida o quanto antes.

Ela conta, sem segurar o choro, que tem medo de voltar para a escola. “Eu sei que lá vou ficar em contato com a droga e tenho medo de ter uma recaída”. Assim como as baladas, onde a jovem ia para usar cocaína, a escola é vista como um local de risco.

A fundadora da comunidade Bom Pastor, Celenita Coelho, que está em contato direto com dependentes químicos com a mesma idade da jovem, explica que o caso não é o único e assusta. “Eles contam que usavam e compravam drogas nas escolas e nós não sabemos o que fazer. A escola deve ser a base, mas a gente percebe que não tem sido assim”, diz.

Educação, já! /As histórias, apesar de assustadoras, refletem a realidade na qual os jovens estão inseridos. Além das duas jovens, outros adolescentes de diferentes escolas ouvidos pelo BOM DIA relatam situações que não deixam dúvidas: a droga, inclusive o crack, está dentro da sala de aula. É vendida e usada em um local que deveria ser de formação.

A diretora de uma escola estadual de um bairro da periferia da cidade, cuja identidade também será preservada por segurança, relata que vê a droga dentro da escola, mas teme tomar atitudes. “Os traficantes sabem quem é a minha família e onde eu moro. Eu tenho medo de morrer”.

Ela garante que a situação é compartilhada pela maioria das diretoras. “Na maioria das escolas é assim”, afirma.

Além de mais funcionários para colaborar com a segurança, a diretora diz que é necessário respaldo da ronda escolar da Polícia Militar e programas de prevenção e orientação intensivos para os alunos. Programas esses que estão em falta.

Nas escolas estaduais, a prevenção e orientação em relação às drogas é feita pelo programa “Prevenção Também se Ensina” e pelo Proerd (Programa Educacional de Resistência as Drogas e à Violência), desenvolvido pela Polícia Militar).

O chefe do Departamento de Educação Preventiva da Secretaria de Educação do Estado, Edison Almeida, explica que o projeto “contempla” a temática da droga, entre outros temas como sexualidade e violência. Não existe, entretanto, um projeto que trate somente das drogas.

Além disso, Edison não soube informar a quantas anda o “Prevenção Também se Ensina” em Bauru, já que as reuniões entre o departamento e as duas coordenadoras que a cidade tem para programas especiais como esse acontecem uma vez ao ano. Edison garante, entretanto, que as escolas possuem amplo material para desenvolver o projeto e que tem autonomia para criar outros projetos próprios.

“No próximo ano, o departamento fará avaliação com o pessoal de Bauru, mas a diretoria regional de ensino tem contato direto com as escolas”. argumenta. Ele ressalta ainda que o “Prevenção Também se Ensina” visa trabalhar com assuntos que afetam a autoestima dos alunos. “Você tem que trabalhar para que o aluno não esteja vulnerável. Se ele tiver um projeto de vida, dificilmente irá para as drogas”.

Nas escolas municipais, que cuidam da educação de base, com alunos de até 11 anos, também não há programas específicos de prevenção e orientação em relação a temática das drogas. A secretária de Educação da cidade, Vera Casério, explica que a prevenção é feita através do Proerd, de palestras educacionais e da orientação que as professoras passam em sala de aula. “Estamos desenvolvendo um projeto em parceria outras secretarias, mas, por enquanto, ele ainda está sendo elaborado”.

O tenente coronel Nelson Garcia Filho, comandante do 4º BPMI de Bauru, explica que, apesar da importância que tem o Proerd para as escolas, ele não consegue atingir toda a rede, sendo necessárias outras opções. “Cada diretoria deve desenvolver um projeto que envolva os alunos e a campanha deve ser permanente”.

O coronel, assim como a fundadora Celina e a jovem Marina veem um futuro nada bom sem a educação. “Se os jovens não forem orientados, se não houver ação forte nas escolas, o contato com as drogas não acaba”, diz, já desapontada, Celina.

A família tem que participar e a escola precisa mudar

“Os pais têm que se unir. Ir até a escola para saber o que acontece”. A fala da pedagoga Lilian Aparecida de Oliveira chama a atenção à necessidade de participação da família nos assuntos da comunidade. Lilian trabalha como consultora de pacientes na Comunidade Bom Pastor e sabe da importância da participação da família, tanto na orientação dos jovens, quanto na cobrança de medidas públicas.

O contato intenso que tem com jovens entre 18 e 20 anos, que hoje são a maioria dos internos na comunidade, a faz concluir ser necessária uma reformulação no papel da escola. A comunidade não atende menores de idade, porém os jovens que chegam até lá, geralmente, começaram a usar drogas, e principalmente o crack, muito cedo. “Hoje, 100% dos nosso internos usam crack e a maior parte deles começou a usar na adolescência”, explica. Lilian cobra ações firmes dentro da escola. “É necessário mostrar para a criança e ao adolescente o que é a droga, o que ela faz com o organismo”. Ela diz ainda que o medo de denunciar e agir só piora a situação. “Pode parecer mais fácil fechar os olhos do que arriscar a mudança, mas não é. Precisamos agir”.

‘Diretoras têm que denunciar’, diz Polícia Militar

Bauru conta com o efetivo de uma Ronda Escolar por turno de trabalho e por companhia. Assim, com três companhias na cidade, há uma média de três rondas trabalhando por período. Apesar do número pequeno perto da quantidade de escolas a serem atendidas, o capitão Alan Terra, Oficial de Relações Públicas do 4º Batalhão da PM, explica que a corporação enfrenta obstáculos por falta de meios humanos, porém salienta que a distribuição do efetivo da PM esbarra no que é prioridade.

Apesar das denúncias mostradas pelo BOM DIA, ele esclarece que é necessário que a escola formalize denúncias sobre o que tem acontecido em seu interior para que a PM possa agir. “Se nós não soubermos o que está acontecendo, não podemos tratar como prioridade”. Ele salienta, com essa explicação, a importância de as diretorias exporem seus problemas. “Apesar do medo, é necessário denunciar o tráfico e o uso de drogas para que a polícia possa agir”, diz. Ele ainda esclarece que a PM não pode atuar dentro da escola. “Agimos até o muro. Dentro é responsabilidade da diretoria”

A história de Lucas

Ele, que já se perdeu, teme pelo futuro do filho

“Fiquei sete meses e foi o pior tempo que eu já tive na vida”. Na terceira vez que foi preso por roubo, Lucas passou sete meses na cadeia. Não gosta de falar sobre o assunto e chega a chorar quando tenta. A experiência traumática lhe fez querer mudar de vida quando saiu. Ele mudou de cidade, se afastou da mulher e do filho por alguns meses na esperança de que ficando ao lado da mãe conseguiria se recuperar. Por alguns meses deu certo. Lucas passou cinco meses “limpo”. “Eu voltei a trabalhar, mas tive uma recaída depois de beber”.

Ele considera que as recaídas vão piorando com o passar do tempo. “Eu vendi até a roupa do corpo para comprar crack. Fiquei na rua. Sem nada”. A ideia da recuperação ficou longe, assim como a família. Lucas fala com pesar dos entes e do que seu vício causou a todos. Hoje seu filho está com cinco anos. Lucas conta que os traumas sofridos pela criança foram tantos, e tão grandes, que quando vê o pai sair de casa o pequeno chora.

“Ele nunca sabe se eu estou saindo para voltar ou não”
Lucas se preocupa. Tem medo de que o filho passe pelo mesmo que passou e teme o futuro. “Hoje tem muito mais gente na linha férrea do que quando eu morei por lá. Há muito mais usuários de crack do que quando eu comecei a usar. O que será do meu filho?”.
Fonte:ABEAD(Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas)

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