Ciclo de tratamento contra droga tem até salão de beleza

JC Net Bauru e Região - Rita de Cássia Cornélio
Clínica pública para dependentes químicos funciona em Botucatu
A primeira clínica pública estadual do Interior para dependentes químicos da Faculdade de Medicina de Botucatu da Unesp (100 quilômetros de Bauru) vai além do tratamento medicamentoso e tem até salão de beleza para devolver a autoestima aos pacientes. Investe em terapias para mudar o padrão físico e psicológico dos pacientes. Oferece cursos de profissionalização e é referência no atendimento para 68 municípios. As unidades de saúde são quem encaminham os pacientes. O Serviço de Atenção de Referência em Álcool e Drogas faz parte do programa Recomeço.

A área construída é de 4 mil metros quadrados e é composta de 76 leitos a pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). No interior da clínica há piscina, quadra de esporte, churrasqueira, cozinha para aula, salão de beleza, auditório e área de desintoxicação clínica, onde o paciente é monitorado, porque está com problema clínico ou está na fase de abstinência do álcool ou droga.

A diretora da unidade de Botucatu, Janice Megid, explica que a clínica tenta reproduzir uma condição de vida mais saudável para que os pacientes sintam prazer e mudem o padrão de comportamento após o tratamento e fora do local. “Estamos num complexo. Aqui temos dois outros hospitais e a Fatec. Temos uma horta comum. Quem assessora é a Fatec.”

Ela comenta que, após o tratamento, o paciente sai comprometido com uma rede de atendimento dos municípios. “Nenhum paciente que está sendo trabalhado aqui tem alta sem que a gente se comprometa com uma rede municipal. No período que ele está aqui a gente já faz as tratativas com a rede.”

A diretora ressalta a importância do comprometimento do município com aquele paciente. “Não adianta mostrar ao paciente outras possibilidades de vida e voltar para o município e ele não assumir o restante do tratamento. Compactuar é dizer para eles o que eu fiz e o que eles vão fazer e como a gente vai se comunicar nesse caminho.”

Antes da alta médica, a clínica discute com o município, com os serviços de saúde. “Quando o paciente é adolescente chamamos as escolas. Ele sai com um desenho feito de como ele vai organizar sua vida. Se ele tem envolvimento com a Justiça a gente segue junto com ele, então a gente vai dando um amparo.” Para aqueles que venderam tudo para consumir crack e estão em condições precárias, a clínica providencia o básico.

´Espelho mágico` vira uma terapia

O espelho, aquele mesmo da rainha malvada da história de Branca de Neve, é usado como ´choque` para que o viciado se reconheça. A terapia é feita quando o doente chega à clínica, explica a diretora da unidade Janice Megid.

“No início do tratamento usamos o salão de beleza montado aqui. A pessoa vai se ver no espelho e se reconhece daquela forma descuidada. É ali que ela percebe o que deixou de fazer por si. Muitas vezes é uma situação triste. Chegam em condições de rua, envelhecidos, maltratados. Com o cabelo em desalinho, com os dentes sujos e mal cuidados. Outros já estão sem dentes.”

É um momento que eles refletem muito sobre si, ressalta a diretora. “É quando eles choram, choram muito. Eles se percebem e querem mudar o padrão. Ficam assustados e dizem que não quero mais ficar daquele jeito. É o momento que entra a terapêutica e eles vão aprender a se cuidar. Vão pintar o cabelo de novo.”
O cuidado vai trazendo para eles a informação de que eles podem ser melhor. Podem se valorizar. “É um trabalho extremamente terapêutico. É um dos lugares mais bonitos da clínica. É onde você vê o paciente se modificando e criando uma nova forma de ser.”

Cuidar de si

A autoestima é resgatada durante o período de internação. “Além da pessoa passar a se cuidar, o Senac tem vindo com o curso de capacitação. Eles ofereceram o curso de maquiagem, de unhas artísticas.”

Os conhecimentos possibilitam que a pessoa cuide de si e que tenham maior chance no mercado de trabalho. “Vamos oferecer ainda cursos de manicure e pedicuro e podólogo. O curso de cabeleireiro vai ter início nos próximos dias.”

A oficina de cartas é outro momento que o paciente vai refletir como ele lida com as relações afetivas. “Eles praticam uma série de atividades. Todas as oficinas têm um porquê, não é só para ocupar o tempo. Nela, ele percebe como vivencia as relações familiares, quase sempre muito prejudicada pelo seu vício. É um momento sofrido.”

Ao começar escrever cartas, o paciente faz uma reflexão e percebe seu quadro de doenças, relembra dos filhos. “É muito sofrido para eles. Eles observam os prejuízos. É uma maneira deles reorganizarem a vida para quando deixarem a clínica. Na maioria dos casos, eles querem viver melhor.”

Uma imagem para mim

Ao tentar reconstruir sua própria imagem, o paciente participa de uma oficina oferecida por um artista plástico. Eles recebem informações sobre arte. Em uma dessas oficinas, eles são fotografados, um a um e depois desenham a si mesmos, explica Fabiana Zuttin. “Essa oficina começa com o conceito de retrato e posteriormente com o conceito de autorretrato. Tiramos as fotos e depois eles usam a técnica do carbono. Passam o lápis atrás das fotos e, em seguida, contornam a foto sobre o papel branco. Fazem o contorno do rosto e do corpo que saiu na folha sulfite. Depois eles vão desenhando os detalhes. A terapeuta explica que tudo é contextualizado. “O artista traz imagens, a Monalisa e outras para estudar o conceito de retrato. No autorretrato eles frisam aquilo que eles consideram essencial em suas personalidade. Uns acham que é o sorriso, outros, os olhos.”

Cozinhando para si

A alimentação não é prioridade para os alcoólatras e viciados em drogas. Facilmente, eles deixam de fazer as refeições. “Os usuários de crack deixam de comer porque não tem dinheiro para as duas coisas. Se comem não usam drogas. O crack não costuma sustentar, quem sustenta é a pinga que tem caloria. Quem bebe não come, porque a pinga mata a fome. O crack não mata a fome, quando fumado dá uma excitação, mas não mata fome,” explica a médica Patrícia Toledo. A consequência da falta de alimentação correta é visível. “O paciente de crack perde peso com facilidade, 20 quilos num piscar de olhos”, comenta.

A médica explica que eles buscam prazer nas drogas e quando não tem o entorpecente mergulham na comida. Para reaprender a cuidar da alimentação, há uma cozinha experimental na clínica. Nesse exercício, o paciente conhece o valor nutritivo dos alimentos e aprende a prepará-los.

Mural revela como paciente está se sentindo

Cada paciente tem um tempo de recuperação física e psicológica. Para que um não incomode o outro, foi criado o mural de sentimento. É nele que cada um revela como está naquele dia, explica a diretora da unidade, Janice Megid.

“Alguns reclamavam que não acordavam bem e eram incomodados pelos outros. Com o mural, cada um pode identificar o humor do outro e respeitar o momento dele. Às vezes um acorda mal humorado e não quer conversar. Desta maneira cada um coloca como está se sentindo naquele dia.”

Ela comenta que quando a pessoa coloca no mural um sorriso é sinal que ela está bem e disposta a conversar. “É um exercício. Eles aprendem que hora devem falar com o outro. É uma forma deles trazerem o sentimentos para um mundo mais concreto e serem entendidos.”

Recados

Um outro mural revela quem são as pessoas especiais para eles. “Eles deixam recados para as pessoas que eles mais amam. Muitos escrevem para a mãe, filho e até entre eles. Há recados animadores. Eles deixam recados até para o outro paciente internado. Torcendo para ele vencer aquele momento.”

Todo tipo de dependente

A clínica trata todo tipo de dependência química: álcool, crack, maconha e medicações, especialmente os ansiolíticos. Tem 76 vagas para internação e faz um trabalho de reinserção que passa por ambulatório e outras ações. O tempo de internação é individual.

“Trabalhamos com aquilo que é preconizado pelo Ministério da Saúde, em torno de 15 dias. Acreditamos que esse período é suficiente para fazer uma desintoxicação e uma mudança no padrão do uso. Deixar o paciente com uma crítica melhor para ele continuar fazendo o seu tratamento. A equipe de atendimento é formada por multiprofissionais. A reincidência é alta com o álcool. O crack é uma dependência psíquica e não física. É uma doença crônica que tem que ser cuidada a vida inteira. Nesses 10 meses o índice de re-internações é muito baixo.”

Reproduzindo a vida cotidiana

A churrasqueira, mesa de sinuca, pebolim dentre outras coisas da clínica são reproduções da vida cotidiana, explica a diretora da unidade. “É pedagógico. É para os pacientes perceberem que dá para fazer churrasco sem o uso de bebidas e drogas. É bem simbólico.

A quadra é usada para o convívio, onde eles aprendem regras. A piscina não está sendo usada porque não conseguimos juntar o educador físico com o salva-vidas.”

Pacientes chegam doentes

O descuido com si mesmo é uma característica da maioria dos usuários de drogas ou álcool. Eles não costumam procurar ajuda médica nos postos de saúde e quando são internados apresentam inúmeros problemas físicos e psíquicos.

A médica Patrícia Toledo faz uma divisão dos pacientes para explicar a situação. “Grande parte deles tem doenças associadas ao uso de drogas. Diabetes, pressão alta, doenças infecciosas como HIV, tuberculose, e doenças renais. Temos um renal crônico. A maior parte dos adoecidos são alcoolistas. Eles têm mais doenças do que os usuários de crack, porque normalmente são mais velhos. Quem usa crack tem mais desnutrição e doenças da esfera psicológica, psiquiátrica. São doenças diferentes.”

Os alcoolistas têm mais doenças clínicas, como hepatite, pancreatite, doença vascular periférica. “Os mais velhos têm as doenças comuns de pessoas mais velhas São pessoas que não procuram postos de saúde. Para as mulheres tem o atendimento ginecológico. As pacientes fazem teste de gravidez. As gestantes fazem acompanhamento, procuramos dar uma atenção global. Quando eles estão aqui aproveitamos para tratá-lo como um todo.”

Segundo a médica, normalmente os pacientes que são encaminhados de outras unidades não chegam agressivos. “Alguns ficam agressivos quando recebem um não. Quando há um limite imposto. Eles não aceitam bem as regras. Eles têm a opinião deles e acham que está certo. Colocamos algumas coisas e eles não respondem de maneira adequada.”

Desestruturação

Para a diretora da unidade, a desestruturação da família tem levado a criança e o adolescente a ficar sem a imagem de autoridade. “Não culpamos a família porque ela também está adoecida. Mas a autoridade seria dos pais de uma forma internalizada. Como não tem, o adolescente está aprendendo isso na rua e acaba se entregando a amizades que nem sempre são adequadas. Se entregam ao mundo mágico das drogas.”

O tratamento envolve a família. “Trazemos a família para ser cuidada. É mais fácil a gente inserir a família em todas as propostas do que falar que ela tem que aceitar. Grande parte faz as visitas periódicas. Só mesmo aquelas que moram longe que não comparecem com a mesma frequência.”

A médica comenta que muitos pacientes gostam do medicamento. “Eles querem ingerir medicamentos toda hora porque traz uma tranquilidade que eles não têm. Alguns realmente precisam do remédio e são doenças que têm doença psiquiátrica associada. A maioria não precisa e então conversamos. As pessoas estão querendo se tratar. Aqui em Botucatu tem muitas biqueiras isso invadiu o Interior.”

A diretora da unidade enfatiza que há uma preocupação para que o tratamento não seja centrado apenas na medicação. “Nós ampliamos a assistência ao paciente. Em muitos casos o tratamento é terapêutico é mais adequado. No caso dos usuários de crack por exemplo, a ação médica é até pequena”. Na opinião da médica, o crack substituiu a cola e como é uma droga relativamente barata, atinge os menores.

Para discutir o problema de álcool e drogas com crianças e adolescentes, a clínica está programando um Fórum de Educação. Começa em 11 de setembro nas escolas convidadas e serão feitas ações para a capacitação dos professores.
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas

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